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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

XI ROMARIA DA TERRA E DAS ÁGUAS - Homilia de dom Xavier Gilles

 Romeiras e romeiros. Estamos celebrando a nossa vida. O caminho do Maranhão tem profundas raízes, mas tem também profundas marcas de sofrimento e de dor.
Romeiras e romeiros. Estamos celebrando a nossa vida. De fato estamos a caminho, como nesta romaria. Com a fé que nos move, caminhamos para uma vida melhor, muito melhor, que Deus quer para os seus filhos e filhas. Caminhamos na alegria e na esperança, apesar das dores que marcam a nossa caminhada.
O caminho do Maranhão tem profundas raízes, mas tem também profundas marcas de sofrimento e de dor. O nosso povo é bom, um povo guerreiro e lutador, um povo festivo, de uma cultura muito rica, um povo simples e de valor, que luta com todas as suas forças para ter uma vida digna, um futuro melhor. Nosso povo, tanto das cidades, vilas e comunidades quilombolas do interior, como das periferias de nossas cidades maiores e da nossa capital, é um povo que luta, um povo valente. Mas não é um povo ganancioso, é um povo que simplesmente quer vida digna e direitos respeitados, no mundo que lhes foi dado pelo próprio Criador.
Mas nossa terra, nossas águas e nossa gente não são respeitadas, e isso acontece porque existem outros valores. Existem aqueles que não entenderam que não podemos servir a Deus e ao dinheiro, conforme Jesus nos coloca no Evangelho que foi proclamado nesta celebração eucarística
O nosso Deus é o Deus do amor, o dinheiro é o deus do egoísmo e do ódio. O nosso Deus manda repartir, o dinheiro manda ajuntar. O nosso Deus quer irmãos, o dinheiro quer concorrentes e inimigos. O nosso Deus quer a paz, o dinheiro quer o conflito. O nosso Deus quer preservação, o dinheiro quer destruição. O nosso Deus quer o serviço, o dinheiro quer o poder. O nosso Deus quer vida, o dinheiro quer morte.
O dinheiro se manifesta com poder. Atinge a economia, a política, a sociedade, a cultura e até mesmo a religião. E com seu poder subjuga a tudo e a todos. O seu poder manifesta-se na compra, na negociata, no suborno, que geram corrupção. Assim temos uma sociedade corrupta, uma política corrupta, uma economia corrupta, uma cultura corrupta e até mesmo uma religião corrupta. Aqui encontramos a raiz de todo pecado, do sofrimento, da destruição e da morte. Maldito seja o dinheiro e malditos sejam todos os seus servos, porque o dinheiro é diabólico.
É por causa disso que vimos, na primeira leitura, a maldição proferida pelo Profeta Amós. Os poderosos do seu tempo também tinham a base do seu poder no dinheiro. Gente pecadora e idólatra, que coloca a sua esperança num deus que não pode salvar, mas que condena até mesmo seus seguidores à morte. Todos morreram na maldição. E esta é a sorte de todos os que ainda hoje vivem esta mesma idolatria, condenado à morte na fome, na miséria e na dor seus irmãos e irmãs para servirem este deus ignominioso chamado dinheiro. Esta é a sorte dos que destroem a natureza para servir ao lucro, até descobrirem que dinheiro não se come, não se bebe e não se respira, e que dinheiro não reconstrói o que ele mesmo destruiu.
E porque o dinheiro destrói, precisa ser destruído. É ele quem move as forças que destroem o nosso planeta. Enquanto o dinheiro for divinizado e tiver adoradores, o mundo vai ser destruído. É o dinheiro que compra o poder legislativo, para que ele faça leis injustas, que possibilitam a injustiça, a corrupção e a impunidade. É ele quem possibilita aos legisladores o tráfico do poder e da influência. É o dinheiro que compra o executivo, que fala em grandes projetos que favorecem o poder econômico em detrimento dos pobres e dos miseráveis e fundamenta o seu discurso em mentiras bem elaboradas como, por exemplo, educação profissional para promover o pobre quando na verdade é para garantir mão de obra necessária e de baixo custo para o desenvolvimento econômico sem desenvolvimento humano ou como o projeto da Refinaria Premium de Bacabeira, que deverá ser construída num futuro, provavelmente do pretérito, ou seja, deveria ser construída. É o dinheiro que compra o judiciário, que vende sentenças injustas favorecendo os grandes e matando os pequenos, no campo e na cidade. Vejam o alerta que nos fez o livro do Apocalipse.
Romeiros e romeiras. O nosso Deus está do nosso lado. Ele é o Senhor dos Exércitos, ele é o Libertador que ouve o clamor dos pobres. Utilizando a imagem do Profeta Ezequiel, nós precisamos juntar nossos ossos, nossos nervos, nossa carne, nossa pele, precisamos nos encher do Espírito que sopra neste momento privilegiado para que nossos olhos deixem de ser opacos e tenhamos vida. Precisamos formar o grande exército do Senhor que se coloque em marcha na luta contra a idolatria do dinheiro para que sejamos vencedores, pois assim a nossa dignidade, os nossos direitos respeitados e a vida esteja em nós.

Dom Xavier Gilles
Bispo emérito de Viana-MA

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