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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

JESUS CRISTO, UM PROFETA QUE INCOMODA!

Texto belíssimo de Raymond Gravel, presbítero de Quebec, Canadá das leituras do 4º domingo do Tempo Comum (29 de Janeiro de 2012). A tradução é de  Susana Rocca e encontra-se disponível no sítio IHU Online.


Eis o texto:

Referências bíblicas:
1ª leitura: Dt 18,15-20
2ª leitura : 1 Co 7, 32-35
Evangelho: Mc 1,21-28
A primeira leitura e o Evangelho de hoje nos falam de profetismo. Um profeta com nome misterioso para aquele ou aquela que é profeta e que tem bonita missão para a pessoa que a exerce. E, no entanto, todos e todas nós deveríamos ser profetas. O Concílio Vaticano II afirmou que todos os batizados participam na função profética de Cristo. Mas o que é exatamente? O que é um profeta?
1. O profeta: Segundo o dicionário, profeta é aquele ou aquela que prediz o futuro. É completamente falso, porque a pessoa que prediz o futuro, é um astrólogo ou um cartomante ou um vidente. Isso não tem nada a ver com o profetismo. Basicamente, o profeta não é a pessoa que adivinha o futuro, mas aquele ou aquela que fala em nome de alguém… como cristão em nome de Cristo, em nome de Deus. O profeta não prediz o futuro; lê o presente. E, se acontece de ele ter que falar do futuro é porque ele utilizou o tempo para analisar o presente, ler os sinais dos tempos e poder alertar sobre o futuro. Um profeta deve ter discernimento e muito bom senso.
Na primeira leitura, hoje, o livro do Deuteronômio recorda ao povo de Israel que, doravante, Deus não falará mais diretamente; ele utilizará um intermediário, um profeta para falar ao povo: “Javé seu Deus fará surgir, dentre seus irmãos, um profeta como eu em seu meio, e vocês o ouvirão. Foi o que você pediu a Javé seu Deus, no Horeb, no dia da assembléia: ‘Não quero continuar ouvindo a voz de Javé meu Deus, nem quero ver mais este fogo terrível, para não morrer’.” (Dt 18,15-16). Além disso, foi difícil reconhecer Moisés como profeta, assim como foi difícil reconhecer Cristo como profeta.
No Evangelho de hoje, o evangelista Marcos faz uma bonita declaração: “As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei” (Mc 1,22), isso não impediu que alguém contestasse às suas palavras: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” (Mc 1,24). É curioso, porque mesmo sabendo quem é, igualmente o homem contesta e recusa a novidade da Palavra que ele traz. Mas quem é, por conseguinte, este homem apresentado por Marcos como um possuído, que reconhece a identidade do Cristo do Evangelho e que se opõe ao seu ensinamento? É necessário que seja alguém com autoridade: um líder da comunidade, um padre, um escriba, o pároco da época… que recusa a novidade do Evangelho, como acontece tantas vezes ainda hoje. E lá, Jesus o manda calar (Mc 1,25). E o evangelista acrescenta: “Todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isso? Um ensinamento novo, dado com autoridade... Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem!”(Mc 1,27).
Sem querer fazer um paralelo com a atualidade, parece-me que se Marcos precisa tratar de um ensinamento novo, diferente daquele dos padres e dos escribas do tempo, esse ensinamento deve ter chocado, mobilizado, agitado mesmo aos responsáveis religiosos da época. Mas o Cristo do Evangelho não aponta ao homem mesmo, mas ao seu encerramento, à sua recusa de acolher a novidade de Deus que se manifesta através dele, das suas leis, dos seus preceitos e dos seus regulamentos que asfixiam e que trancam as pessoas numa culpabilidade que é contrária ao Espírito de Liberdade do Cristo do Evangelho. Um exegeta francês anônimo escreve: “E exatamente o sentido da ordem de Jesus ao espírito do mau: Silêncio! Sai deste homem! Jesus veio para que os seres humanos tenham vida e a tenham em abundância. A sua autoridade é unicamente um poder de vida e não de morte. Os escribas acabavam esterilizando a Lei. Jesus a libera de qualquer constrangimento para oferecer uma Palavra criadora de vida. E nós, em Igreja, que fazemos desta Palavra? Bastante frequentemente transformamos as palavras do Evangelho em demasiados preceitos morais, jurídicos, que encerram na consciência na culpa, em vez de fazer chamadas do Espírito de Liberdade que quer nos colocar de pé, fazer de nós pessoas acordadas, vivas”.
2. O profeta hoje: Quem são os profetas de hoje? O cardeal belga Godfried Danneels escreve: “O nome de Deus é Jesus de Nazareth. Porque é pelo Filho que eu conheço o Pai. É a via de acesso. Posso, evidentemente, falar do Pai mas sempre está escondido, por trás, o nome do seu Filho. É um homem concreto que viveu conosco e entre nós, que deixa vestígios na história. É um Deus histórico”. Se eu acompanho a reflexão do Cardeal Danneels, devo dizer que esse Deus histórico encarnado em Jesus de Nazaré continua sempre vivo, hoje, através de nós, a sua Igreja. O que significa que o nome de Deus, hoje, é Cristo Ressuscitado e o Cristo Ressuscitado somos nós. É por isso que, todas e todos nós somos profetas pelo nosso batismo e pelo nosso compromisso como discípulos do Ressuscitado, visto que somos o seu Corpo. Então a pergunta que nos fazemos é a seguinte: Que rostos de Deus, de Cristo, nós damos a conhecer ao mundo no qual vivemos? O rosto de um Deus vingativo? Guerreiro? Juiz? Mesquinho? Hipócrita? Ou um rosto de um Deus de Amor? De tolerância? De perdão? De divisão? De paz? De esperança?
Diz-se, com frequência, que atualmente os homens e as mulheres não querem mais ouvir falar de Deus. Será que é realmente de Deus que as pessoas não querem mais ouvir falar? Não será exatamente de determinados rostos de Deus que são apresentados a elas? Ouvir certos líderes de hoje, que encarnam um Deus perverso: que julga, que condena e que exclui, posso compreender que há crentes que não querem mais ouvir falar. Mas, se lhes apresentam um Deus de Amor que acolhe o outro, qualquer outro, no respeito e na dignidade, parece-me que os cristãos de hoje como os de ontem, seriam menos reticentes a esse Deus da história, que é um Deus de Liberdade e de Amor.
Concluindo, podemos pedir a Deus, nas nossas orações, que nos envie profetas para falar em seu nome. Ousaria dizer: Parem de lhe pedir e comecem a reconhecer aqueles que já estão aqui e que nos falam Dele, porque como bem fala um exegeta do Quebec, Jean-Pierre Prévost“O problema não está do lado de Deus que nos envia sempre os profetas que necessitamos, mas sim da nossa parte e da acolhida que lhes damos”. Sabemos ouvir a Palavra dos nossos profetas que nos falam de outra maneira, certamente, mas que nos trazem a novidade do nosso Deus?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CONVITE DE ORDENAÇÃO DIACONAL

"Sei em quem depositei minha confiança" (2 Tm 1,12)

A Arquidiocese de São Luís do Maranhão, nossas famílias e nós, Luís Carlos Andrade Macêdo e Irailson Dias Barbosa, temos a alegria de convidar você, sua família e comunidade para participarem da solene celebração Eucarística na qual seremos ordenados diáconos pela imposição das mãos e oração consacratória de dom José Belisário da Silva, Ofm, arcebispo Metropolitano.

O evento será dia 11 de fevereiro as 17:00hs na Igreja São José e São Pantaleão - Centro - São Luís - MA.

Gratos pela participação e Oração

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

CARTAZ DE DIVULGAÇÃO DA CF 2012 E ABERTURA DO ANO JUBILAR



A Arquidiocese de São Luis do Maranhão convida a todos para o lançamento da Campanha da Fraternidade 2012 e abertura oficial do ano jubilar em comemoração aos 400 anos de anúncio do Evangelho em terras maranhenses. O evento acontecerá dia 25 de fevereiro no Ginásio Castelinho a partir das 14:30hs. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

GOVERNO RECONHECE A IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES DA PASTORAL DA JUVENTUDE

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, enviou uma carta aos participantes do 10º Encontro Nacional da Pastoral da Juventude (ENPJ), na qual reconhece a importância das ações desenvolvidas pela Pastoral da Juventude (PJ). De acordo com o ministro, “têm especial relevância as ações da PJ, em conjunto com outras pastorais, contra a violência de que são vítimas os jovens negros em nosso país”.
Em sua carta, o ministro destaca o trabalho da PJ realizado há três décadas, bem como a luta em favor da juventude brasileira. O ministro parabenizou a Pastoral da Juventude pela participação na articulação da 2ª Conferência Nacional de Juventude realizada em dezembro do ano passado, em Brasília.
“Envio os meus votos de que esse Encontro Nacional da PJ seja espaço profícuo, onde se fortaleçam as vossas convicções em defesa da vida da juventude e de um Brasil livre das injustiças e das misérias”, concluiu o ministro.
Marcha contra a violência
O 10º ENPJ teve início no último domingo, 8, em Maringá (PR), e conta com a presença de mais de 600 jovens representando as dioceses brasileiras. A programação segue até o dia 15 com palestras, trabalhos em grupo e celebrações. Hoje, 11, as assessorias são sobre os temas Concílio Vaticano II e Projeto de Revitalização da Pastoral Juvenil Latino Americana.
No sábado, 14, após a celebração de encerramento, os participantes do encontro farão uma marcha da Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens. A concentração será a partir das 17:30h no estacionamento do estádio Willie Davis, no centro de Maringá.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

UM TERÇO DA POPULAÇÃO MUNDIAL É CRISTÃ

Dos 6,9 bilhões de habitantes do planeta Terra, 2,18 bilhões, ou 31,7% do total, pertencem a uma denominação cristã, mostra o relatório “Cristianismo Global”, elaborado pelo Centro Pew de Pesquisa, dos Estados Unidos.
A notícia é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 09-01-2012.


Quase 34% dos cristãos estão na América do Norte e do Sul; 26% na Europa, 23,6% vivem na África subsaariana e 13,1% na região Ásia-Pacífico. Apenas 0,6% está no Oriente Médio e norte da África

Ao contrário do que se verificava há um século, hoje o cristianismo é uma fé global, aponta o relatório do Centro Pew.

A metade dos cristãos segue a fé católica, enquanto 36,7% são protestantes e 11,9%, ortodoxos. Estados Unidos, Brasil e México abrigam o maior número de cristãos.


domingo, 8 de janeiro de 2012

EPIFANIA DO SENHOR: AINDA É NATAL

Os Magos encontram o menino somente com Maria. É, portanto, o Cristo na Igreja que os Magos encontram. Uma Igreja pobre, sem poder, próxima dos pequenos e dos rejeitados... Uma Igreja que nos diz a pobreza, a impotência e a presença desconcertantes do nosso Deus.
A reflexão é de Raymond Gravel, sacerdote de QuebecCanadá, publicada no sítio Culture et Foi, comentando as leituras do Domingo da Epifania do Senhor (8 de janeiro de 2012). A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.
Referências bíblicas:1ª leitura: Is 60, 1-6
2ª leitura: Ef 3,2-3a.5-6
Evangelho: Mt 2,1-12
Natal Epifania são, assim como a Páscoa e a Ascensão, uma única festa. Do nascimento de Cristo ao Natal, passamos agora à sua manifestação (epifania) para todos, sem exceção. Hoje, diz-se que a Epifania é a segunda festa de Natal, mas, sem dúvida, foi a primeira, por ser celebrada no tempo pela Igreja Oriental no dia 6 de janeiro, para dizer que Deus se manifestou ao mundo através do menino e da sua mãe em Belém a todos os povos da terra, através dos Magos que vêm do exterior. No entanto, assim como para o Natal, não é preciso fazer do relato dos Magos, que só Mateus conta, um relato histórico que se referiria a um acontecimento que efetivamente ocorreu no tempo. Fazer tal leitura reduziria a beleza do relato e o porte da mensagem que o evangelista Mateus quis deixar à sua comunidade composta por judeus, certamente, mas também por pagãos, até o fim do século I.

1. A luz

Acima de tudo, Mateus conhecia o profeta Isaías. Compondo o relato, quis nos mostrar que o que havia sido anunciado pelo 3º Isaías, no fim do Exílio, finalmente se realizou com a vinda de Jesus Cristo para o mundo. Com efeito, o profeta Isaías convida Jerusalém a se levantar, porque chegou a luz com o retorno dos exilados à Cidade Santa (Is 60, 1-2). Mas, ao mesmo tempo, não há judeus só judeus que voltam para Jerusalém; todas as nações para lá afluem e trazem as suas riquezas e os seus tesouros, porque todos reconhecem o Deus de Israel, que faz a unidade entre os povos. Esse Deus acolhe a diversidade e a pluralidade... É uma abertura à universalidade verdadeiramente surpreendente, se levarmos em conta que estamos no século VI antes de Cristo.

O evangelista Mateus, retomando o texto de Isaías, quer mostrar que é Jesus Cristo aquela luz que se elevou para todas as nações. O povo de Israel não é mais o único povo de Deus; os pagãos de todas as origens também são escolhidos por Deus, que se revela antes a eles. 

São Paulo diz explicitamente em sua carta aos Efésios, no trecho da segunda leitura de hoje: "Eis o mistério: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e beneficiários da mesma promessa, no Cristo Jesus, por meio do evangelho" (Ef 3, 6). Portanto, Mateus retoma de Isaías a imagem da peregrinação dos povos à Cidade Santa, para adaptá-lo ao estábulo de Belém, através dos magos do Oriente que seguem a luz, a estrela, o astro de Jacó que anuncia a vinda do Messias a Israel, segundo o livro dos Números (Nn 24, 17). Portanto, há um deslocamento: de Jerusalém, se passa a Belém. Deus não habita mais no templo de Jerusalém. Toma um caminho novo, desconhecido para os grandes, e habita nos coração dos pobres, dos oprimidos e dos excluídos. Segundo Mateus, Deus nasce em uma família pobre, em um lugar escuro, longe da cidade grande, em uma aldeia onde encontramos os excluídos, os pastores.

Aos dois presentes – ouro para a realeza e incenso para a divindade – oferecidos pelos gentios de Sabá (Is 60, 60),Mateus acrescenta a mirra, símbolo da humanidade de Deus que se diz e que se expressa através do menino da manjedoura. O teólogo belga Claude Sélis, escreve: "Os magos usam de sabedoria humana prestando homenagem ao Deus que se manifestou a todos. Eles oferecem o ouro, atributo real, o único e verdadeiro Rei do único e verdadeiro Reino. Eles oferecem o incenso, atributo sacerdotal, ao único e verdadeiro Sacerdote do novo culto em espírito e em verdade. Mas eles também oferecem a mirra, atributo mortuário, porque que Mateus sabia que essa realeza e esse sacerdócio deviam passar pela morte". 

Além disso, a tradição que interpretou Mateus fez dos magos, reis, sem dúvida por causa do profeta Isaías que diz: "As nações caminharão à tua luz, os reis, ao brilho do teu esplendor" (Is 60, 3). E ainda mais, para significar a universalidade, a tradição também identificou os magos com todos os povos da terra: um branco, um negro, um amarelo; as três fases da vida: a juventude, a idade adulta e a velhice, que correspondem à novidade, à maturidade e à sabedoria. Finalmente, a tradição até lhes deu nomes: GasparMelchior Baltazar.

2. Uma presença e um poder desconcertante

O relato de Mateus também se inspira no livro do Êxodo, porque, para Mateus e sua comunidade, Jesus é o novoMoisés (o Messias), e o que aconteceu com Moisés na tradição e na lenda judaica também deve necessariamente acontecer com Jesus. Não é por nada que Mateus nos apresenta a crueldade do rei Herodes que tenta matar o menino de Belém, assim como o malvado Faraó do livro do Êxodo tentava matar Moisés. No evangelho de Mateus, vemos até mesmo a sagrada família se estabelecer no Egito (Mt 2, 13-23) por um certo período, como Moisés fez no seu tempo.

Os Magos se dirigem antes a Jerusalém para consultar os especialistas da religião judaica, porque é a Palavra de Deus que pode conduzir até Jesus, que se tornou Cristo, Senhor, rei, messias, salvador, para os cristãos de Mateus. Os Magos reconhecem a competência das autoridades judaicas que interpretam corretamente a Escritura, mas que são incapazes de atualizá-la. Pior ainda, o rei Herodes procurará se servir dos Magos para suprimir o Salvador da humanidade. Para o evangelista Mateus, trata-se justamente do novo Moisés perseguido desde o nascimento.

Quando os Magos chegam ao lugar onde se encontra o menino "sentiram uma alegria muito grande" (Mt 2, 10). Só uma outra vez Mateus irá falar de uma "alegria muito grande", quando as mulheres, no túmulo, na manhã da Páscoa, ficam sabendo de um anjo que Jesus ressuscitou (Mt 28, 8). Assim, os Magos encontram o menino somente comMaria (Mt 2, 11). É, portanto, o Cristo na Igreja que os Magos encontram. Uma Igreja pobre, sem poder, próxima dos pequenos e dos rejeitados... Uma Igreja que nos diz a pobreza, a impotência e a presença desconcertantes do nosso Deus.

3. Atualização do relato de Mateus hoje

O evangelista Mateus nos apresenta três tipos de pessoas que se encontravam em seu tempo e que também podem ser encontradas hoje:

1) Há aqueles que detêm o poder: esses são representados por Herodes e pela sua corte. Quem detém o poder não aceita facilmente ser incomodado, interpelado pelo evangelho. Quer controlar tudo, até Deus, impedindo-lhe de se manifestar no mundo. O poder, segundo Mateus, está em oposição ao Cristo do evangelho. Por quê? Porque o poder favorece a desigualdade, a injustiça e a opressão. E o evangelho é totalmente o contrário. Ser fiel ao evangelho significa reconhecer o menor como o maior, o mais pobre como aquele que Deus prefere, e o mais ferido pela vida como aquele a quem se deve dar mais espaço, a fim de que reencontre a sua dignidade. Nos homens de poder, tanto no tempo de Mateus quanto nos nossos tempos, encontram-se as mesmas características.

2) Há aqueles que sabem: os escribas, os sacerdotes, os profissionais da religião, os especialistas que interpretam corretamente a Bíblia: anunciam a novidade de Deus... mas não se movem, se sentam sobre as suas doutrinas e sobre o seu saber e dizem que não podem mudar nada, porque não têm autoridade para isso. O problema, portanto, não é de interpretação, mas sim de atualização da Palavra. Além disso, assim como a fé cristã se expressa e se explica na história, assim a Palavra de Deus – se não se atualizar no tempo e no lugar em que é proclamada – não é mais a Palavra de Deus, mas sim uma palavra morta, palavras que são continuamente repetidas, mas que não dizem mais nada. Palavras ao vento que não tocam ninguém. Os especialistas de hoje se assemelham muito aos do tempo de Mateus.

3) Há aqueles que buscam Deus e que se põem a caminho para descobri-lo e encontrá-lo. Há incerteza nessa aventura; não se sabe com antecedência onde isso vai nos levar e não se sabe nem onde iremos descobrir e encontrar o Deus da história. É preciso confiança e esperança. Podemos e devemos nos inspirar na Palavra de ontem, mas essa Palavra deve ser interpretada e atualizada para que hoje se diga e se escreva uma Palavra nova de Deus que interpele as mulheres e os homens do nosso tempo. Mas atenção! Também é possível que nós também devamos tomar um caminho diferente do proposto por aqueles que sabem e por aqueles que dirigem: "Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho" (Mt 2, 12).

Terminando, podemos dizer hoje, com uma quase certeza, que o Deus da história é único. A sua presença e o seu poder são desconcertantes. O importante é buscá-lo, pôr-se a caminho para descobri-lo, encontrá-lo e deixar-se transformar por esse encontro. É preciso admitir, ao mesmo tempo, que os nossos encontros com Deus nunca são definitivos: Deus não se deixa possuir por ninguém. Santo Agostinho havia compreendido isso muito bem quando escreveu: "Por toda a vida buscamos Deus e, quando o encontramos, devemos buscá-lo mais uma vez".