Nos dias 10 e 11 de Setembro aconteceu a 11º Romaria das Terras e das Águas no Distrito de Piquiá, Açailândia. Piquiá é um dos lugares-símbolo dos impactos da cadeia de mineração e siderurgia do Programa Grande Carajás. A 11ª Romaria de Terra e das Águas do Maranhão mostrou as diversas situações de agressão, de sofrimento e de destruição pelos quais passam o ambiente e a população deste nosso Maranhão. A realidade de dor que nós, romeiros e romeiras constatamos em Piquiá, nos fez lembrar outras situações vividas pelo Estado a fora. Portanto, as dores de Piquiá são reflexo das dores de todo o Maranhão que aqui queremos destacar algumas.
1º DOR: PLATAÇÃO DE EUCALIPITOS
Antes mesmo de nós romeiros e romeiras chegarmos no Distrito de Piquiá no deparamos diante de uma dura realidade ao longo das margens da Estrada de Ferro Carajás, além das pastagens há varias plantações de eucalipto. Plantado em milhares de hectares pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Muitos destes eucaliptos são transformados em carvão vegetal é usado para aquecer os altos-fornos siderúrgicos que transformam o minério de ferro em ferro-gusa.
Além de contribuir para a poluição do ar, o eucalipto prejudica muito o solo e os lençóis freáticos. Tudo porque o eucalipto se adapta muito bem nas regiões semi-áridas e é muito resistente a secas devido à sua capacidade de procurar água a dezenas de metros com suas raízes profundas, que acabam secando os lençóis freáticos. Suas folhas são dificilmente biodegradáveis e mesmo depois de sua decomposição o húmus resultante não é favorável para o aproveitamento de outras árvores.
2º DOR: A POLUÍÇÃO: trabalho sim, mas sem poluição!
Os moradores da comunidade de Piquiá de Baixo, sofrem com a poluição causada pelas carvoarias e usinas siderúrgicas de ferro-gusa que operam a poucos metros de suas casas.
Diante desta situação o certo seria as siderúrgicas adotarem mecanismos efetivos para reduzir a emissão de fuligem. Mas isto é difícil e ainda mais que as próprias empresas apostam na frouxidão da fiscalização do Estado.
No final da Romaria o presidente da Associação de Moradores de Piquiá de Baixo mostrava aos Bispos meio saco cheio de fuligem que tinha ajuntado dos bancos e mesas das casas na comunidade, imagina o dano que isto faz e já fez aqueles que estão respirando diariamente aquele ar.
3º DOR: A TRANSFERÊNCIA DO POVOADO PIQUIÁ DE BAIXO
Na Romaria foi lembrado que nos últimos três anos, a associação de moradores local, o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos e a Paróquia São João Batista de Açailândia estão organizando a resistência e a propostas alternativas.
De uma forma que em 2009, o Ministério Público Estadual compôs uma equipe multidisciplinar para definir as condições de um deslocamento do povoado para uma área digna, próspera e saudável.
A solução proposta de transferência de cerca de mais de 300 famílias de Piquiá de baixo vem sendo negociada aos trancos e barrancos, com omissões do Ministério Público de Açailândia que procura atender interesses de alguns setores locais.
No entanto, é importante dizer que as entidades e a associação de moradores de Piquiá não estão contra o desenvolvimento e a geração de emprego e renda. Acreditam, porém que isso deve e pode acontecer com respeito à saúde e à dignidade do povo, bem como com a preservação do meio ambiente, até hoje saqueado sem controle e que nós romeiros vimos a olho nu.
4º DOR: OS DIREITOS HUMANOS
Em maio deste ano a Federação Internacional de Direitos Humanos e de Justiça Global, publicou o relatório intitulado: “Quanto Valem os Direitos Humanos? – Os impactos sobre os direitos humanos da indústria mineira e siderúrgica em Açailândia”. Em que analisa os impactos da mineração e da siderurgia na saúde e no meio ambiente das comunidades estudadas, e por outro lado esquece os projetos de desenvolvimento deste tipo.
As conclusões do relatório destacam as dificuldades no acesso a informações sobre estudos de impacto ambiental, as dificuldades de obtenção de reparação judicial, bem como o assédio moral e judicial enfrentados pelos defensores dos direitos humanos que denunciam os impactos negativos ligados às atividades da Vale.
O relatório também cobra da Vale e de seus parceiros comerciais ações imediatas de reparação às comunidades, e até mesmo o reassentamento de Piquiá de Baixo.
E AGORA A ROMÁRIA ACABOU?
De forma alguma! Pois o que nós romeiros e romeiras vimos em Piquiá com os nossos próprios olhos: a poluição do ar, as enormes áreas plantadas com eucaliptos, a exploração do trabalho de operários descartáveis quando a empresa os consideram supérfluos e a expulsão forçada de moradores antigos e atingidos pela poluição, não são apenas dores do Distrito de Piquiá, mas de todo o Maranhão, pois não são fatos restritos aquela comunidade, mas um verme que se espalhou por todo o nosso estado.
Podemos nos lembrar das plantações de soja que expropriam quilombolas e lavradores de suas plantações, ou das madeireiras que acabam com as matas nas quais vivem as populações mais antigas como os indígenas.
Mais no meio de tantas dores há alternativas, pois sabemos que é possível reconstruir uma nova sociedade e que é possível produzir alimentos sem uso de venenos, e que o desenvolvimento econômico não nega o desenvolvimento humano.
Tudo isto é possível, pois Deus está conosco. Portanto, todos os excluídos do Maranhão: os indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais e operários da cidade e favelados vamos nos unir à exemplo do povo de Deus no êxodo que à procura de uma “Terra melhor” clamou a Deus e Este veio a seu socorro, pois o êxodo existiu, existe e existirá enquanto houver excluídos e estes gritarem a Deus.
A luta continua e muito axé a todos!
Elinaldo Nunes Botelho
Seminarista da Diocese de Zé Doca-Ma
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