Youcef Nadarkhani, 34 anos, casado e pai de dois filhos, é o primeiro cristão condenado à morte no Irã nos últimos 20 anos e pode ser executado. Já está há dois anos na prisão. De Washington a Berlim, passando por Londres e Paris, governos ocidentais e comunidades cristãs se mobilizam para salvá-lo.
A reportagem é de Ignacio Cembrero e publicado pelo El País, 02-10-2011. A tradução é do Cepat.
As dificuldades de Nadarkhani(foto) começaram em outubro de 2009, quando o governo iraniano decretou que todos os alunos deveriam participar de aulas de islã independentemente de sua religião. Nadarkhani, que começou a trabalhar como pastor evangélico em 2001 na região de Gilan, a 250 km de Teerã, não aceitou a decisão. Ele é fundador de uma pequena comunidade chamada Igreja do Irã.
O pastor foi ao colégio de Rasht onde estavam matriculados os seus dois filhos homens,Daniel e Joel, para retirá-los. Alegou que a Constituição iraniana reconhece a liberdade de culto para as religiões do Livro, entre elas o cristianismo, e que seus filhos não eram obrigados a aprender o Corão.
O Irã tem uma população de 71 milhões de habitantes, entre os quais há cerca de 300 mil cristãos. A grande maioria (250 mil) são armênios, cerca de 32 mil são assírios e o restante são católicos e evangélicos de famílias convertidas faz mais de um século, por missionários.
No mesmo dia em que Nadarkhano tirou seus filhos do colégio, a polícia secreta do regime dos aiatolás o prendeu. Desde então está preso e submetido com frequência a um regime de isolamento. Em 12 de outubro de 2009, foi acusado de apostasia em um tribunal de Rasht que o condenou à morte em setembro de 2010.
O código penal iraniano não prevê pena capital para os que abjuram do islã, mas os juízes podem se inspirar na sharia (a lei islâmica) ou nas fetuas (editos islâmicos pronunciados por teólogos) para justificar suas sentenças ignorando a legislação vigente. É o que fizeram os magistrados de Rasht.
Diante deles, Nadarkhani argumentou em vão, através de seu advogado Mohamed Ali Dadkhah, que muito antes de alcançar sua maioridade já não era mulçumano. Para obrigar a se retratar, as autoridades prenderam sua esposa que acabou condenada a cadeia perpétua por cumplicidade em juízo celebrado sem advogado. Dadkhah recorreu da sentença e, surpreendentemente, a mulher foi solta.
Dadkhah também apelou faz um ano contra a condenação da morte de Nadarkhani e, em julho, o Tribunal Supremo de Qom emitiu um veredito supreendente. Nadarkhani não é culpado de apostasia e sim de “apostasia nacional” porque seus antepassados são muçulmanos e ele deve retornar à religião de seus ancestrais ou do contrário será enforcado.
Deve, diante do tribunal de Rasht, dizer se renega o cristianismo e recupera sua fé no islã. Essa pergunta foi feita a Nadarkhani nessa semana pelos magistrados. O pastor contestou: “Não posso”, segundo disse seu advogado, sobre o qual pende uma sentença de nove anos, uma multa, um descredenciamento profissional e cinco chicotadas por fazer propaganda contra o regime islâmico.
Quando aumentou a mobilização internacional para salvar Nadarkhani, o Irã ampliou de repente as acusações contra o pastor. Gholam Ali Rezvani, vice-governador da província de Ghilan encarregado pela segurança, declarou à agência de imprensa iranianaFars que o pastor havia cometido “crimes em matéria de segurança”. “É um sionista e um traídor”, acrescentou. É a primeira vez que um dirigente político se pronuncia sobre o caso.
O advogado Dadkhah está estupefato. Em declarações à agência francesa AFP lembrou que o seu cliente somente foi julgado por apostasia e “nunca se falou de crimes contra a segurança do Estado”.
Desde junho de 2010, cerca de 300 cristãos foram presos em 35 cidades iranianas e muitos deles continuam ainda detrás das grades, com frequência em celas isoladas à espera de julgamento segundo organizações de defesa de direitos humanos.
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