As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
2011-2015
2011-2015
Dom José Belisário da Silva, ofm
Uma aprovação rápida e alegre
Dia 9 de maio de 2011, segunda-feira. Era o sexto dia da 49ª Assembleia da CNBB. Dom Geraldo Lyrio Rocha, até então Presidente, já tinha manifestado sua preocupação sobre a urgência da aprovação final das novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2011-2015 (DGAE-2011/2015). “Só depois dessa aprovação, esclareceu ele, podemos dar início ao processo eleitoral, no qual a Assembleia escolherá os membros da nova Presidência e os novos Presidentes das Comissões Episcopais para o próximo quadriênio”. Como de costume, a tarde de sábado e a manhã do domingo, ocorridas no meio da Assembleia, foram dedicadas ao retiro dos bispos. Os membros da Comissão das DGAE, porém, não puderam participar. Passaram o final de semana debruçados sobre as cerca de mil e quinhentas emendas propostas pela Assembleia. Na primeira sessão de segunda-feira, a Comissão apresentou o texto final a ser debatido e votado. Geralmente, esse processo é bastante penoso, com muitos pedidos de destaques por parte dos autores das emendas. Qual não foi o alívio, porém, quando o texto, com apenas um destaque, foi aprovado! Bispos mais velhos testemunharam ter sido esse um fato inédito na história da Conferência. Alguém, talvez, poderia questionar por que isso aconteceu. Seria pelo fato de o texto final ter realmente traduzido o sentimento da maioria e do momento (o Kairós) vivido pela Igreja do Brasil? Ou, olhando as coisas numa perspectiva pessimista, essa facilidade na aprovação revelaria um certo desinteresse, talvez um certo cansaço por parte dos bispos?
Prefiro ficar com a primeira hipótese. De fato, as DGAE-2011/2015 não nasceram da noite para o dia, mas foram fruto de um caminho longo e participativo.
O Simpósio de Brasília ou Conselho Permanente Ampliado
De 13 a 15 de abril de 2010, a convite da Presidência da CNBB e sob a coordenação do Instituto Nacional de Pastoral, aconteceu em Brasília o chamado Conselho Permanente Ampliado. Participaram bispos do Conselho Permanente, isto é, a Presidência da CNBB, os Presidentes das Comissões Episcopais e representantes dos dezessete Regionais da CNBB; componentes da Comissão Especial para as novas DGAE-2011/2015; representantes de organismos e pastorais vinculados com a CNBB e de organismos eclesiais de diálogo e comunhão com a CNBB – como por exemplo, a Conferência Nacional dos Institutos Seculares, o Conselho Nacional do Laicato do Brasil, a Conferência dos Religiosos do Brasil e outros; assessores da CNBB e assessores convidados. Ao todo, cerca de uma centena de pessoas. Tratava-se de, concretamente, iniciar o processo de revisão das DGAE-2008/2010 ou da possível redação de novas DGAE.
Algumas palestras e relatórios ajudaram a introduzir as questões a serem debatidas. Padre José Ernanne Pinheiro falou sobre O significado eclesiológico das DGAE na história da Igreja no Brasil, descrevendo o contexto histórico no qual nasceu e se desenvolveu o esforço realizado pela Igreja do Brasil para planejar sua vida e ação evangelizadora. Padre Joel Portella apresentou o mapeamento dos planos de pastoral das diversas arqui/dioceses do Brasil. Ao questionário anteriormente enviado, responderam cerca de 30 % das arqui/dioceses. Padre Joel afirmou que, apesar de algumas limitações – por exemplo, os planos seguem gêneros literários diferentes –, pode-se afirmar tranquilamente que todos eles levaram em consideração as DGAE-2008/2010. Dom José Antônio Peruzzo, bispo de Palmas-Francisco Beltrão, abordou o tema Aparecida, Palavra e Missão, chamando a atenção para a força da Palavra, para a Leitura Orante da Palavra e para a importância da Iniciação Cristã. Padre Agenor Brighenti, partindo do documento final da Conferência de Aparecida, afirmou a necessidade de uma conversão pastoral para uma Igreja em estado permanente de missão. Foram apresentadas ainda as sínteses das consultas feitas aos secretários executivos dos Regionais da CNBB, aos Organismos do Povo de Deus e ao Grupo de Assessores da CNBB.
Ao final do encontro, reunidas a Presidência da CNBB e a Comissão das DGAE, juntamente com alguns assessores, concluiu-se pela necessidade de se levar à Asssembleia Geral da CNBB, que teria lugar algumas semanas depois, uma consulta, mais ou menos nos seguintes termos:
Considerando
- que temos um caminho a percorrer para uma mais profunda implementação dos princípios e fundamentos norteadores da V Conferência do Episcopado Latino-ameriacano e Caribenho;
- que a realidade propõe à ação evangelizadora novos desafios;
- que o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra traz novas contribuições para a ação evangelizadora da Igreja no Brasil;
que decisão tomar: manter as DGAE-2008/2010, com as atualizações necessárias ou redigir novas DGAE?
A construção do texto
A questão das novas DGAE ocupou uma das sessões da 48ª Assembleia Geral da CNBB, acontecida em Brasília. Alguns oradores foram ouvidos. Ao final, o plenário foi consultado por escrito. O resultado dessa consulta sinalizava para a revisão das DGAE-2008/2010, com a recomendação explícita de que não apenas se citasse o Documento de Aparecida, mas que se procurasse entrar em seu espírito. Falou-se também na importância de se levar em consideração a esperada Exortação Pós-sinodal sobre a Palavra que, como sabemos, só seria publicada em 30 de setembro de 2010.
Antes de iniciar qualquer trabalho de redação a Comissão das DGAE quis consultar, mais uma vez, os membros da CNBB. Com data de 17 de maio de 2010, foi enviada a todos os bispos a seguinte questão:“Em sua opinião, o que a Comissão deveria considerar tendo em vista a revisão das DGAE?” A maior parte das respostas, cerca de trinta, eram mensagens de apoio e ânimo para o trabalho da Comissão. Algumas, porém, chamavam a atenção para pontos como: necessidade de uma conversão pastoral; indicação de estruturas pastorais que devam ser mudadas; paróquia como rede de comunidades; uma Igreja missionária que vá ao encontro das pessoas; insistir que todo católico faça parte de pequenas comunidades; insistência, clareza e valorização dos ministérios leigos; necessidade de se passar de uma catequese ocasional para um verdadeiro catecumenato; necessidade de um texto com estilo mais leve e envolvente.
A partir das sugestões provenientes do Conselho Permanente Ampliado, da 48ª Assembleia da CNBB e das sugestões pessoais de vários bispos e pessoas, a Comissão começou seu trabalho de redação. Em meados de junho, ela já chegou a uma proposta de estrutura das novas DGAE que, em linhas gerais, permaneceu nas redações seguintes e no texto final aprovado.
Uma primeira versão – o chamado “texto mártir” – estava pronto no final de novembro. Esse texto, ainda não oficial, foi enviado não só a todos os bispos, mas também a vários segmentos da Igreja do Brasil. De posse das reações, a Comissão revisou o texto que – agora, sim, oficial e protocolado – foi enviado aos bispos, para que esses pudessem propor possíveis emendas. De posse das propostas de emendas, a Comissão chegou ao segundo texto protocolado. Foi esse o texto que, enviado aos bispos em 19.03.2011, foi objeto de estudos, discussões e emendas na 49ª Assembleia Geral e, finalmente, aprovado na manhã de 9 de maio de 2011.
A estrutura das DGAE-2011/2015
As DGAE-2011/2015 começam com uma Introdução, na qual se procura deixar claro a distinção entreDiretrizes e Planos de Pastoral. “Diretrizes são rumos que indicam o caminho a seguir, abordando aspectos prioritários da ação evangelizadora, princípios norteadores e urgências irrenunciáveis. Os planos de pastoral das Igrejas Particulares percorrem um roteiro específico, contendo estudos e iluminação da realidade à luz da fé, objetivos, critérios e meios para sua concretização na própria realidade” (DGAE-2011/2015, nº 2).
O primeiro capítulo intitula-se Partir de Jesus Cristo. Trata-se de uma breve exposição cristológica e eclesial. “Toda ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. Jesus Cristo é nossa razão de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir” (DGAE-2011/2015, nº 4). As atitudes básicas de Jesus Cristo – o texto fala em alteridade e gratuidade – hão de ser também as atitudes básicas da Igreja e dos discípulos missionários d’Ele.
O segundo capítulo, com o nome de Marcas de nosso tempo, apresenta, de modo conciso, algumas características mais marcantes da realidade atual. Inspirado no Documento de Aparecida, afirma que vivemos numa mudança de época à qual deve corresponder uma conversão pastoral.
O terceiro capítulo – Urgências na ação evangelizadora – e o quarto capítulo – Perspectivas de ação – têm os mesmos subtítulos, a saber: 1. Uma Igreja em estado permanente de missão; 2. Igreja: casa da iniciação cristã; 3. Igreja: lugar da animação bíblica da vida e da pastoral; 4. Igreja: comunidade de comunidades; 5. Igreja a serviço da vida plena para todos. Porque isso? A introdução do quarto capítulo nos dá a resposta. “De nosso olhar como discípulos missionários sobre marcas de nosso tempo (Cap. II), confrontando com as urgências na ação evangelizadora (Cap. III), a partir de Jesus Cristo (Cap. I), derivam numerosos e complexos desafios pastorais” (DGAE-2011/2015, nº 73). O quarto capítulo tenta, então, sugerir algumas perspectivas de ação às urgências pastorais.
O quinto capítulo – Indicações de operacionalização – é uma novidade. Procura-se aí dar subsídios às Igrejas Particulares e a outros segmentos da Igreja, no trabalho de elaboração de seus planos pastorais.
Finalmente, as DGAE-2011/2015 se concluem com um convite ao Compromisso de unidade na missão. Vale a pena citar todo o nº 139: “Estas Diretrizes apontam para o compromisso evangelizador da Igreja no Brasil para o início da segunda década do século XXI. Manifestam, através das cinco urgências, o caminho discernido, à luz do Espírito Santo, como resposta a este tempo de profundas transformações. Em continuidade com as orientações de toda a Igreja, elas assumem o mais profundo espírito do Concílio Vaticano II, recolhendo a riqueza existente no Magistério pós-conciliar. Acolhem, de modo especial, as Conclusões da Conferência de Aparecida, no desejo de que elas se concretizem em ações evangelizadoras, capazes de suscitar o fascínio por Jesus Cristo e o compromisso pelo Reino de Deus e sua justiça”.
E agora?
No processo de construção das DGAE-2011/2015, mais de uma pessoa observou que, nos últimos anos – talvez nos últimos quinze anos –, a Igreja do Brasil perdeu a cultura do planejamento. Será que não está no momento de recuperarmos essa cultura? Planejar significa ver com otimismo o presente e futuro. Significa confiar na colaboração humana com a ação de Deus na História.
Uma citação de São Francisco em seu leito de morte talvez venha ao caso: “Comecemos, irmãos, pois até agora pouco ou nada fizemos”.
São Luís do Maranhão, 26.06.2011
Disponível em: http://www.arquidiocesedesaoluis.com.br/
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